HERE BE DRAGONS

sábado, maio 17, 2008

Crunchy Frog - mas não deveria ser KDE 4 Beta?

Há uma esquete bastante conhecida do Monty Python's Flying Circus chamada Crunchy Frog. Nela, dois policiais do Esquadrão de Higiene da polícia de Londres visitam uma fábrica de chocolates para confirmar denúncias a respeito dos doces lá produzidos. Segue-se um longo e hilário diálogo sobre a caixa de bombons Whizzo Quality Assortment. Por exemplo, discute-se os ingredientes de um bombom chamado Spring Surprise (sendo que spring pode ser traduzido tanto como primavera quanto como mola). O consumidor vai comer tal iguaria, pensando que sentirá algum aroma ou sabor delicado e acaba com ambas as bochechas perfuradas por um par de molas que se expandem violentamente depois que o chocolate derrete. Outro bombom leva em sua receita vômito de cotovia. Todos os nomes dos bombons e informações da caixa são escritos com uma tremenda má fé e levam o consumidor a pensar que a caixa é fabricada com ingredientes mais convencionais e não sapo cru com osso, abraçadinho de barata, suflê de antraz ou bexiga de bode.

Bom, o KDE 4 foi lançado. Faz tempo até. Estamos na versão 4.0.4 (codinome FILÉ NÃO ENCONTRADO) e já estão inclusive trabalhando no 4.1. Depois de meses olhando o bicho meio torto, resolvi brincar com ele. Resultado? DECEPÇÃO!

First there is the cherry fondue. Now this is extremely nasty, but we can't prosecute you for that. Antes que os Freetards reclamem - é, roubei o termo do Cardoso, sim -, eu sei que o maldito 4.0 é para "brave users" e não para o populacho! Mesmo assim, minhas reclamações são pertinentes.

Next we have number four, 'crunchy frog'. Am I right in thinking there's a real frog in that? Não, meus caros, não estou decepcionado com o visual ou com os recursos. Achei até bem bacanas. O que estou decepcionado é que a numeração de versões adotada pelo projeto dá a impressão ao incauto de que o KDE 4 está pronto. E NÃO ESTÁ. Is it cooked? No! Há bugs ainda, muitos, abundantes, chatos. What, a raw frog? Mais chato ainda é o fato de que muitos aplicativos do KDE 3 ainda não foram portados. Aplicativos importantes, como o KMail e o amaroK, estão longe de entrarem no galho 4.0 e provavelmente nem no 4.1.

Vejam isso - nenhuma indicação de que o KDE 4.0.3 (que na verdade era o 4.0.4) não é uma versão, digamos, "de produção":



O pessoal do projeto KDE pode falar à vontade que usa apenas as mais finas pererecas-mirins selecionadas à mão no Iraque, lavadas com água Perrier, abatidas graciosamente e depois seladas em um suculento chocolate suíço feito com o mais puro creme de leite, não sem antes serem caramelizadas com glucose.

That's as maybe, but it's still a frog!
Gente, isso é um absurdo. E não sou só eu que acho isso. Não há problema nenhum em soltar versões beta com funcionalidade reduzida, com bugs e tal. Mas não lança como sendo produto pronto, por favor! Isso afasta novos usuários. E o pior é que, quando perguntados a respeito, os desenvolvedores do KDE nos olham de cima a baixo e dizem "mas é isso mesmo, fizemos assim de propósito". Pra quê, só pra sacanear?

- Well don't you even take the bones out?

- If we took the bones out it wouldn't be crunchy would it?


Tá, tudo bem, na Central de Notícias do KDE está dito que é só para os "brave users". Mas e daí? Quem é que lê aquela bosta? Ninguém, a não ser desenvolvedores e nerds de plantão. No site oficial do KDE - esse sim, talvez, seja lido por usuários comuns - tem lá um anúncio do KDE 4.0.4 louvando suas qualidades. MAS NENHUMA PALAVRA AVISANDO QUE É UMA VERSÃO INUSÁVEL POR QUEM NÃO É NERD. Ou seja, má fé. Cadê a indicação, no próprio site, ou no repositório, ou no local de download, ou - o que seria mais coerente - no próprio número de versão da coisa, de que o produto não é para os fracos? Isso deveris ser bem visível na hora que o pobre usuário vai instalar ou usar. Onde está? Não tem. Em minha nada humilde opinião, deveria haver um grande cartaz vermelho escrito WARNING: LARK'S VOMIT para alertar os incautos de que aquilo ali é perigoso. Afinal, ninguém quer ter as bochechas atravessadas por molas pontiagudas, não é mesmo?

É claro que há bugs chatos e outras coisas que nem são bugs mas incomodam pra cascalho - como o fato de transformarem os ícones da área de trabalho naqueles horrorosos e inúteis Widgets - é muito fácil apagar um Widget, é só clicar acidentalmente no X vermelho. E eles não vão para a lixeira. Bobeou, dançou!



Eu poderia ficar a noite toda falando das mazelas, do menu iniciar HORROROSO, da porcaria que é o Dolphin, da imbecilidade que é ter que usar o amaroK do KDE 3 porque o do KDE 4 existe mas não toca... Mas não, eu vou é sair daqui antes que passe mais raiva, desinstalar essa merda e voltar pro meu KDE 3.5 que lá eu sou feliz.

Feliz mesmo com um bug do KMail que, claro, trava tudo e não me deixa trabalhar mas que o pessoal do Bugzilla vai catalogar como WON'T FIX - WORKS FOR ME e deixar o usuário na mão - como SEMPRE fazem porque desenvolvedor de Software Livre é tudo vagabundo arrogante, mesmo - cambada de ímpio. Mas isso é outra história e eu já tou com vontade de mandar todo mundo tomar no... deixa pra lá, não vou falar porque depois quem não tem o que fazer vem me trincar as bol.. as idéias: "olha, não use tantos adjetivos coloridos porque isso não te dá credibilidade". Orra, que mané credibilidade? Eu sou um cara que se veste de preto, põe um penico na cabeça e brinca de mestre Sith com um cabo de vassoura pintado com tinta fosforecente. Se quer credibilidade vá ler o BR-Linux e não me encha o saco.


Adendo: quem quiser assistir à esquete do Monty Python, recomendo a versão do Hollywood Bowl - o Graham Chapman conseguiu ser muito melhor que o John Clesse nesse papel específico. Por uma questão histórica, confira também a versão original e o script completo, caso seu inglês não seja lá essas coisas.


Update em 18.mai.2008: o Almirante Kee definiu bem a situação. "É um exemplo de como NÃO executar um projeto iterativo. Eles têm desculpa pra fazer isso, porque individualmente os programas do KDE 4 liberados passaram da fase do beta e estão em versão estável. Mas o sistema como um todo, enquanto ambiente de trabalho, entidade única, está incompleto. Eles fizeram a coisa de caso pensado pra ter o bicho na rua logo. Mesmo que não esteja completo. O resultado está aí. Podem ver que nenhuma distribuição adotou o KDE 4, mesmo já estando na versão 4.0.4. Bem diferente do que aconteceu com o KDE 3 - todas as grandes distribuições adotaram o KDE 3 antes mesmo de ele sair da fase Beta. Agora o KDE 4 já está na versão 4.0.4 e parece a Estrela da Morte - já no espaço destruindo o planeta dos outros, mesmo estando ainda em construção."